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Cogumelos

Historicamente, os cogumelos foram classificados como plantas inferiores (talófitas), devido principalmente ao fato de apresentarem estrutura muito simples, sem a presença de folhas, raízes, caules, sementes e flores propriamente ditos. Há muito, porém, foi constatado que esses organismos, assim como os demais fungos, possuem peculiaridades próprias suficientes e significativamente distintas para justificar a sua colocação num reino separado, o Reino dos Fungos, distinto tanto do Reino Vegetal, como do Reino Animal.
 
Vale ressaltar que todos os cogumelos são fungos, mas nem todos os fungos são cogumelos. Os cogumelos são definidos pelo renomado cientista chinês Shu-Ting Chang como “macrofungos com corpos de frutificação característicos grandes o suficiente para serem visíveis a olho nu e coletados com as mãos”. Os corpos de frutificação, em geral, se formam acima do solo (epígeos), mas podem também serem formados abaixo do solo (hipógeos), como as trufas, por exemplo.[1]
 
Do ponto de vista metabólico, os cogumelos estão mais próximos aos animais e, quanto à reprodução, aos vegetais. Apesar de se assemelharem às plantas, carecem de cloroplastos e, portanto, são incapazes de sintetizar o seu próprio alimento através da fotossíntese. Assim como os animais, são heterotróficos, requerendo compostos orgânicos preformados como fonte de energia, os quais são obtidos por absorção. Desempenham um papel essencial na natureza, sendo um dos principais decompositores da matéria orgânica.
 
Os cogumelos são tidos como alimentos especiais desde tempos remotos, tendo sido provavelmente um dos primeiros alimentos colhidos pelos povos pré-históricos. Na antiguidade, eram servidos pelos egípcios aos faraós como iguarias e, pelos romanos e gregos, como alimento principal em suas famosas orgias. E não é de se estranhar. Estudos científicos têm comprovado que os cogumelos comestíveis e/ou medicinais fornecem proteína de alta qualidade que pode ser produzida com maior eficiência biológica que a proteína animal. São ricos em fibra, minerais e vitaminas e apresentam baixo teor de gordura total, com uma alta proporção de ácidos graxos poliinsaturados. Além disso, muitas espécies são não apenas nutritivas, mas possuem também propriedades tônicas e medicinais. E, ainda, apresentam qualidades gastronômicas de textura, aroma e sabor bastante atrativas ao paladar humano. Esses cogumelos são, assim, merecidamente reconhecidos como uma excelente opção entre os alimentos saudáveis ou funcionais.
 
A prática do uso de fungos na terapia faz parte de tradições milenares. Provavelmente, as primeiras reproduções de fungos conhecidas pelo homem, datando de 3000 anos, referem-se às famosas “pedras de cogumelos” da Guatemala, onde os fungos eram usados em rituais místicos e medicinais há muito esquecidos [2]. No primeiro livro chinês sobre substâncias medicinais, o Shen Nung’s Herbal, escrito há mais de 2000 anos, encontram-se registros dos efeitos benéficos de vários fungos. O Lingzhi (cogumelo do gênero Ganoderma) era usado pelas cortes imperiais da China como Elixir da Vida, Deus da Longevidade. Não sendo comestível, pode-se inferir que o uso desse cogumelo estava associado às suas propriedades medicinais ou tônicas [3]. Os cogumelos foram também mencionados por grandes escritores gregos e romanos – entre os quais Hipócrates, o pai da medicina, século IV a. C. – com nomes especiais e alguns deles com indicação de determinadas aplicações médicas [2].
 
O interesse pelas propriedades tônicas ou medicinais dos cogumelos aumentou enormemente a partir da década de 1970. Desde então, as pesquisas para validar as suas propriedades medicinais, assim como determinar a natureza da ação dos compostos biologicamente ativos, tiveram um grande impulso, acarretando uma maior comercialização de seus produtos. Inúmeras substâncias com atividades terapêuticas têm sido isoladas e caracterizadas.
 
 
Referências
 
[1] Chang, S.T.; Mshigeni, K.E., 2013. Mushroom farming: life-changing humble creatures. Dar es Salaam, Tanzania : Mkuki na Nyota Publishers Ltd, 84 p.
 [2] Molitoris, H.P., 1994. Mushrooms in medicine. Folia Microbiologica, Prague, v. 39, n.2, p.91-98.
[3] Miles, P.G.; Chang, S.T., 1997. Mushroom biology: concise basics and current developments. Singapore: World Scientific, 194 p.

Texto elaborado por Angela Amazonas como contribuição para o website da Associação Nacional de Produtores de Cogumelos - ANPC, em 01/11/2013.

O Setor de Cogumelos

Antes concentrada na região do Alto Tietê em São Paulo, ao longo dos últimos anos, apesar de todas as dificuldades, a cadeia produtiva do cogumelo no Brasil tem se estruturado e, atualmente, o cultivo de cogumelos está disseminado em várias regiões do país.

Atualmente, os principais produtores estão nos Estados de São Paulo (Mogi das Cruzes, Pinhalzinho, Ibiúna, Sorocaba, Salto, Cabreúva, Juquitiba e Valinhos) e no Paraná (Castro, Tijucas dos Sul e Curitiba). 

Além desses Estados, também existem cultivos em Minas Gerais, Rio de Janeiro, sul da Bahia, Pernambuco, Brasília e no Rio Grande do Sul.

A ausência de estimativas precisas sobre o setor dificulta a quantificação exata do número de produtores em atividade no Brasil e a ANPC estima que no país existam mais de 300 produtores de cogumelos que, em sua maioria, são micro e pequenos agricultores familiares.

Esses produtores são responsáveis por gerar mais de 3.000 empregos diretos e têm a produção de cogumelos como a sua principal fonte de renda.

Melhorias tecnológicas permitiram um ganho de produtividade dos fungicultores brasileiros nos últimos anos, mas há mais de uma década uma parcela significativa dos produtores nacionais (produtores de champignon de paris) sofre com a concorrência, muitas vezes desleal, enfrentada pela fungicultura nacional frente aos produtos importados (cogumelos transitoriamente conservados e em conserva), em especial, dos produtos originários da China.

Em função da concorrência com o produto importado, a cada ano observa-se uma redução do número de produtores e da produção e, no momento, estima-se que o Brasil produza pouco mais de 12.000 toneladas “in natura”, conforme tabela abaixo.

Se comparada com a produção de países como a China, Itália, Estados Unidos e outros países (quadro abaixo), essa quantidade é considerada muito pequena. 

No entanto, apesar de pequena, a produção de cogumelos no Brasil desempenha um importante papel social e de alternativa de renda, principalmente para os micro e pequenos produtores da agricultura familiar.


Dez Principais Países Produtores de Cogumelos e Trufas - 2011

 

 

 

 

 

 

 

 

Concorrência Desleal

A luta por melhores condições de mercado para os produtores brasileiros resultou em importantes ações do Governo Federal de defesa da fungicultura nacional, como por exemplo, a inclusão dos cogumelos classificados nos itens 0711.51.00 e 2003.10.00 da Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM) na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (LETEC), pela Resolução CAMEX nº 13/2010.

Essa inclusão elevou a alíquota do imposto de importação (II) aplicada às importações brasileiras dos itens classificados nessas NCMs de 10% e 14%, respectivamente, para 35%, dando maior competitividade ao produtor nacional.

A inclusão dos cogumelos na LETEC e, a consequente elevação da alíquota do imposto de importação, contribuiu para manter a competitividade do produto nacional, uma vez que com o fim do direito antidumping (medida aplicada até 2008) o cogumelo chinês passou a entrar no Brasil a um preço muito abaixo do praticado pelos produtores nacionais.

No entanto, mesmo com alíquota de 35%, nos últimos anos observou-se um aumento expressivo do volume das importações brasileiras de cogumelos, especialmente originárias da China. 

Comparando-se as importações (todas as origens) de cogumelos de 2013 com as de 2012, observa-se que o volume das importações dos cogumelos classificados nos itens 0711.51.00 e 2003.10.00 da NCM aumentou mais de 30%, conforme demonstrado no gráfico abaixo.

Em se tratando dos cogumelos originários da China, se comparado o volume importado em 2008 (fim da aplicação do direito antidumping) com o volume importado em 2013, verifica-se um aumento de mais de 1000% em pouco mais de 5 anos, como demonstrado no gráfico abaixo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Como consequência do aumento do volume das importações, a preços subcotados em relação ao mercado doméstico, um elevado número de produtores de cogumelos (champignon de paris) encerraram suas atividades ou migraram para outras culturas.

Consumo de Cogumelos no Brasil

Por falta de tradição e desconhecimento em relação aos cogumelos, seus benefícios e até mesmo de como prepará-los, o Brasil também possui um consumo per capita baixo, em torno de 160 gramas, se comparado com o consumo de alguns países europeus como a França, a Itália e a Alemanha, cujo consumo per capita é superior a 2 kg ou com países asiáticos como a China e a Coreia do Sul, que consomem mais de 8 kg de cogumelos por habitante.

Cogumelos no Brasil

Infelizmente, o Brasil não possui uma cultura de consumo de cogumelos e muitos acreditam que essa falta de cultura deve-se ao fato do país ter sido colonizado pelos Portugueses que, no passado, não tinham o hábito de consumir cogumelos.

O registro do uso pelos povos indígenas na alimentação e para propósitos medicinais é muito limitado. Há relatos, porém, de que os grupos Sanema e Yanomami, na Amazônia, são consumidores de uma grande variedade de cogumelos. 

Foi somente na primeira metade do século passado, com a chegada de japoneses e chineses em grande número, estabelecidos principalmente no estado de São Paulo, que a história do cultivo de cogumelos no Brasil começou. 

Atualmente, são conhecidas mais de dez mil espécies de cogumelos, das quais cerca de duas mil são consideradas comestíveis. Destas, vinte são cultivadas comercialmente. No Brasil as mais cultivadas e comercializadas são:

 

Agaricus bisporus – Champignon de Paris

 

Conhecido no Brasil como "Champignon de Paris” e nos países de língua inglesa como “Button Mushroom”, Agaricus bisporus é cultivado em um composto orgânico que pode ter em sua composição palhas de cereais, gramíneas, bagaço de cana e esterco animal.

Agaricus bisporus é o cogumelo mais cultivado em todo o mundo, sendo responsável por 38% da produção mundial de cogumelos cultivados. As principais regiões produtoras são Europa, América do Norte, China e Austrália.

No Brasil, estima-se que a sua produção represente mais de 66% do total de cogumelos “in natura” produzido no país.


Pleurotus spp.– Cogumelo Ostra     

Dentro do gênero Pleurotus são cultivadas várias espécies de cogumelos que incluem o Pleurotus ostreatus (shimeji branco e shimeji preto), Pleurotus djamor ou Pleurotus ostreatoroseus, Pleurotus eryngii, Pleurotus pulmonarius e Pleurotus citrinopileatus. Estes cogumelos são cultivados em uma ampla gama de resíduos orgânicos (palha de cereais, serragem, bagaço de cana, resíduos de algodão) em sacos plásticos ou garrafas.

Os cogumelos do gênero Pleurotus ocupam a segunda posição na produção mundial, correspondendo a 25% da mesma.

No Brasil, este grupo também ocupa a segunda posição e estima-se que sua produção represente mais de 16% do total de cogumelos “in natura” produzido no país.


Lentinula edodes - Shiitake

 

Lentinula edodes, comumente conhecido como “shiitake” ou “cogumelo do carvalho”, é amplamente produzido no Japão, China e Coréia, representando 10% da produção mundial de cogumelos cultivados.

No Brasil, estima-se que a sua produção represente cerca de 12% do total de cogumelos “in natura”.

 

Agaricus blazei 
 

Este cogumelo, mundialmente apreciado por suas qualidades gastronômicas e especialmente por suas propriedades medicinais, é conhecido comumente por várias denominações, tais como, “Cogumelo Medicinal”, “Champignon do Brasil”, “Royal Sun Agaricus”, “The Brazilian Medicinal Mushroom” e, no Japão, “Himematsutake”. 

Descoberto na região de Piedade, estado de São Paulo, em meados da década de sessenta do século passado, foi enviado ao Japão, onde vários estudos sobre as suas propriedades medicinais foram relatados. Classificado inicialmente pelo taxonomista belga Paul Heinemann como Agaricus blazei Murrill, teve sua nomenclatura revisada a partir de 2002. Ainda não há um consenso entre os especialistas a este respeito, de modo que o cogumelo é referido na literatura mundial como Agaricus blazei, Agaricus brasiliensis e Agaricus subrufescens. Algumas publicações brasileiras relatando propriedades medicinais em estudos clínicos referem-se ainda ao cogumelo como pertencente à espécie Agaricus sylvaticus.

 


Material gráfico (gravuras) desta página © International Society for Mushroom Science

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